domingo, 28 de dezembro de 2014

JACÓ EM PENIEL

Não há maior pesadelo para o homem
do que sua própria condição;
E a maior iniquidade é o seu tesouro e herança.
Foi com o chumbo da traição e os olhos cheios de horror
que Jacó chegou a esse ermo lugar.
Esperava a morte, e não menos, 
no choque com o exército de seu irmão usurpado.
Às margens do rio, sem companhia,
enquanto animais rasteiros e peçonhentos 
buscavam refúgio na imensidão,
Jacó ainda via os olhos de Raquel
e nos olhos dela, os de José,
e um deserto, 
e ouviu sua mãe que chorava.
Mas não vem nenhum exército
e não se desfraldam bandeiras e não
ninguém traz a implacável vingança.
Sobre o dorso sente um golpe lancinante;
lançado ao chão, e no meio do pó,
se vê numa batalha cega e feroz
contra quem não lhe mostra o rosto,
um estranho inimigo,
que também não declara o nome.
São horas e horas dessa arenga renhida,
desse duro torneio sem descanso.
Será o céu coberto de estrelas sonhadas?
Será a imensíssima noite de um sono eterno?
Ao fim e por fim vencido o homem,
e abençoado, agora, na justa luta
é hora de tornar-se naquilo que se é;
ao fim e por fim, vencido Deus,
manchado de sangue o manto e o alforge,
caminha Jacó sobre a terra de seu pai,
a perna lacerada na altura do fêmur,
caminha lentamente,
uma dor de jamais curar-se,
mas não ele,
que morreu nas margens daquele rio tão longo quanto a vida.




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