terça-feira, 17 de janeiro de 2017

OMINIA SOL TEMPERAT

Tudo o sol doura, teus cabelos;
Ficamos em silêncio na tarde iluminada.
As aves do firmamento e os animais da terra
aquietaram;
apenas, nos caminhos do tempo,
o embate desses meus olhos contra os teus
e palavras nenhumas.
Não te quero dizer do amor
cuja chama queima minha alma eternamente;
e digo.
Nem clamar que aplaques uma sede infinita;
e clamo.
Há água suficiente feita desse instante claro,
quando por uma chispa de ternura
o teu braço roça o meu braço,
o teu cheiro percorre o ar do dia.
Ainda não houve nenhuma noite
e nenhum encontro.
Por isso,
a lágrima inaugura essa aurora.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A MORTE DE JOÃO BATISTA

(para o pastor José Nilton Lima)
 
Os olhos, sim, permanecem vivos, 
e se não mais fitam
e não mais enxergam, 
é porque não é esse o movimento, 
mas o contrário,
como o rio, que não corre para a nascente.
A antítese do rio é esse coágulo que escurece uma bandeja
de prata.
 
Onde está o corpo, agora, seixo, cipreste?
Que capricho é o corpo! 
Que capricho, vaidade, é a vida de um só!
E não o oceano cerúleo e não a semente (árvore contida) e frutos.
Ventos de areia a cobrir de areia a areia do deserto,
nessa silenciosa dança,
sob essa música silenciosa.

Vivos, ainda, não os olhos já mortos,
nem os cabelos, 
ramos do cipreste a pender sobre o rio,
mas a prata da água, as sandálias para longe atiradas,
a brasa, espada, uma palavra,
o anátema.
Salome whit the head of Baptist - Caravaggio