sábado, 26 de maio de 2012

DA BREVIDADE DA VIDA


São duas horas da manhã, Talvez durmas... 
neste momento eu me pertenço, e assim,  
realizo em  mim uma fantasia 
a saber, 
a de que, neste momento, não pertenço a ti. 

Ainda posso sentir em  minhas mãos  
o calor e  a  maciez  de  uma mão de mulher. 
Indeterminada mulher que está, que corre, que escorre 
no meu sangue.

Resiste entre os meus dedos alguma coisa 
que é como a sensação de tocar, porém, 
mais concreta, mais viva. 
Vive em mim o toque, 
o toque branco de  mãos que se revolvem no meu 
estômago  
junto ao líquido elemento 
dessa bebida intraduzível, que eu, 
por cansaço, chamaria 
de madrugada.   
imagem colhida no google

sábado, 12 de maio de 2012

O COMPLÔ MUNICIPAL DE POESIA

Falta  toalha na mesa 
do complô municipal de poesia. 
A sala é por demais clara 
e os homens do complô municipal de poesia 
por demais polidos. 
Não há tristeza na sala, 
nas luzes, 
nos homens,  
não há bêbados homens 
no complô municipal de poesia. 
Sério: 
não há poesia por enquanto 
no, nem bem começado, 
complô municipal de poesia. 
A poesia ficou do lado de fora 
no subir e descer de escadas 
no bater de tamancos e 
caindo da lua; 
a rua ficou longe 
e minha tristeza é grande, 
se expande. 
Tudo o que tenho 
de poeta e de homem 
não cabe neste espaço. 
O fato se realiza, 
deslizam a falar os doutores letrados 
do complô municipal de poesia. 
Vincent Van Gogh




quarta-feira, 9 de maio de 2012

NARRATIVA DA CRIAÇÃO

Primeiro foram os céus , 
foram as trevas   os mares  
a luz do sol  
primeiro foi sendo o mundo belo. 

Quando falas é o sibilar de uma serpente 
e a minha alma está envenenada 
e comovida.  Primeiro dia. 

A cidade foi o enigma 
indecifrável 
E tu estás para fora de todo o movimento. 
segundo dia. 

As multidões caminham imaginárias  
ruas 
lindas e tristes. terceiro dia.. 

Há um frenesi constante 
festas , casas de alegrias diversas,  
teatros, máquinas. quarto dia. 

Eu sei que o dia não existe 
e que a noite foi uma vaga esperança. 
no centro do mundo carrancudo 
teu sorriso 
cada dia menos visível. 
quinto dia. 

Desse pó e dessa lama 
dessa planta descolorida e precária 
do grito último no cinema 
do desencontro sob a chuva 
do trago seco dessa bebida ruim 
de conversas 
do sexo apressado e estéril 
eu quase me tornei homem.   sexto dia. 

No sétimo, o caos. 
a água expulsava os peixes  
e os homens se matavam. 
na casa da moça amada deixei segredos, 
o espírito da angústia habitava o coração de deus.
Olive trees - Vincent Van Gogh



terça-feira, 8 de maio de 2012

POR NÃO SABIDO ARTERIAL MISTÉRIO

Faleceu na noite, por não sabido arterial 
mistério 
o homem comum. 

Da vala comum soprou uma brisa mortal 
de ausência. 

Entretanto somos iguais, entre tantos, 
na noite pelo caminho, sob a luz, 

mundo de minério, 
ciência. 

Nenhuma porta de vidro pode nos guardar, 
e canção nenhuma conter o que há de ânsia, 

nem se pode relatar com absoluta franqueza 
o que aqui se pretendeu.