terça-feira, 9 de dezembro de 2014

SOBRE FORMIGAS E DIAMANTES

Não cabe a mim, nem a ti, ou qualquer outro decidir
ou não decidir sobre a vida. Que atitude tomar  
senão viver e continuar vivendo os dias e as noites, 
apodrecendo magnificamente e fertilizando outros campos? 

Não é de se formular objeções e lançar insultos ferozes, 
a vida não é uma instituição, não se revoga em congresso. 
Sob as estrelas inumeráveis, nas moléculas de teu sangue, 
meu amor, nenhum átomo do que se pode chamar de incorreto, 
nos pântanos pululantes de bichos e nas selvas calorosas, 
nos planetas desconhecidos e no centro do teu olho verde,  
uma coisa só incondicionada existia eternamente e antes, 
está nas formigas e nos diamantes, no gelo e no teu filho, 
está na escadaria da casa da tua mãe e na tela do cinema, 
está no teu sexo quente, como nas flores e nos ratos, 
nas galerias subterrâneas e nos peixes luminosos e cegos, 
no teu silêncio depois do amor e no grito do teu parto. 

Não cabe a mim, nem a ti, estarmos a julgar ou medir, 
para além dos meus prováveis setenta ou oitenta anos, 
para além do último filho de minha descendência, 
há a vida que não é uma coisa ou outra coisa, 
há a vida que não é inspiração de nenhum supremo deus. 

Não perguntes o que é que existe o que é que não existe, 
conceber o que não existe é uma doença da nossa pequenez, 
existe a vida interminável e vária, o céu azul, meu pé.



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