quinta-feira, 29 de outubro de 2020

CLAREIRAS

Deléveis, as formas
imergem virgens, difusas.
É o geômetra,
perscrutando números,
não coisas,
é o iludido geômetra,
sôfrego, quem primeiro vê
o que não tem signo,
o que não se iluminou
e jazia
na fibra da terra,
tal como na fibra do olho.

 

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

DOR E MEDO E GELO E FOGO


Nem amargo nem doce - 
Há, tão somente, os átomos e o vazio;
a multicolorida face não
nem as constelações no carrossel da noite imensa.
Dor e medo e gelo e fogo - 
as coisas findas e seus contrários -
nem amor nem morte (desejo - falta ) 
e os parques e as parcas,
os porcos.
Em vez disso, apenas se pressupõe o movimento. 
Não há
a água no mar salgada nem os pastos, pradarias 
- a alma -
mistura mística que afirma-se piedosamente, talvez. 
Mas olha
nos teus olhos líquidos e verdes 
- teus cabelos tão belos -
olha, veja, as mãos que tocaram com ternura e força 
o teu corpo;
e a tristeza que meu coração despeja na corrente sanguínea.
Nada disso há e jamais se engane. 
Há os átomos e o vazio,
o vazio e os átomos.