quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

METADE

Metade da obra não é a obra. 
metade 
É terem ficado os mares 
secos. 
metade 
do dia,  noite. 
metade 
do rio,  leito nulo, 
a asfixia das plantas. 
Metade 
do sexo,  
esterilidade. 
Metade 
É o filho dividido pela espada 
ninguém sendo mãe. 
Metade  
da vida, 
morte. 
Metade do mundo bebe leite, 
cresce, ama, se identifica, 
chora  
se comove, 
metade 
não se move. 
metade são cidades iluminadas 
                               perfeitas 
                                celestes, 
metade são tristezas 
                    lixeiras 
                    viveiros 
somálias áfricas américas 
                                   latinas.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A NATUREZA DA CHUVA


Esperamos pelas águas sagradas e profusas; nelas o próprio espírito de Deus 

pairava e não havia dia nem noite; esperamos pelas águas, 
pelo milagre do que é fluido, como fluida é a própria vida; 
esperamos pelas águas ternas e límpidas, 
pelo beijo da chuva, seu beijo prateado. Esperamos.

Esperamos pelas águas rasas e profundas; à beira mar, na beira rio, 

sob as pontes iluminadas a vapor e medo; esperamos pelas águas,
pelo tempo do que é belo e frágil; como bela e frágil é a própria vida; 
esperamos pelas águas frias e cáusticas, 
pelo canto da chuva, seu canto melismático. Esperamos.

Esperamos pelas águas calmas e profícuas; no ancoradouro, 

no Rio Amarelo, na aldeia, no Tigre e no Eufrates; 
esperamos pelas águas, pelo quase nada da vida, 
que é fluida como a própria chuva; esperamos pelas águas 
eternas e verdadeiras,
seu sussurro de águas, a revelar um segredo. Esperamos.