domingo, 5 de junho de 2016

A HIPÓTESE DA ÁGUA

(para Graziela Brum)

Não quero a verdade,
uma única,
para onde apontem todos os medos.
Isso que agora vemos não é isso,
mas o velado,
o segredo,
a voz de Deus, 
a água,
o úmido,
e não este estalido de pólvora,
este riacho, 
esta rua de pedra.
A ponte. A lua. O rubro sol.
Isto.
Sem nome, esférico, mudo.
Máquina, caráter, número,
logos.
Não quero a verdade,
nenhuma,
escura verdade mineral,
sem cheiro,
sem cor,
onde deságuam todas as coisas,
vórtice,
vertigem,
voragem,
quero a cidadela indevassável,
casario de imprecisa cidade,
turbilhão,
águas claras da tua face
indecifrável.
Got the blues - Sebastian Ferreira