sábado, 9 de dezembro de 2017

A GRANDE E FENOMENAL CONTENDA QUE TIVERAM JOSÉ DE ARIMATEIA E GERMANO POR CAUSA DE UMA DAMA OU POR CAUSA DE COISÍSSIMA NENHUMA MESMO

José de Arimatéia
Eu me chamo de José
em Pernambuco nascido,
Criado nas bravuras
das areias, do agreste e das dunas
Não admito o desatino
de um tal Germano desiludido
de querer a minha Bruna
Esse Germano que se toque
para o porão dum navio
A Sofrer de febre braba
e morrer de fome e frio,
ou então para por fim a esse jogo
Numa coivara de fogo
lhe passo da faca o fio.
Germano
Ameaçou-me um amigo
Passar-me à faca de fio
Que ignorância, lhe digo
Tomar-me por inimigo,
Tu se oriente, meu fio.
A Bruna é minha mulé
A um Zé, prefere um Mané
De tu ela zomba e eu me rio
Eu nasci no Cubatão
Mas sou naturalizado
Sergipe, Jaboatão
Sou cabra nordestizado
Sou repentista dos bão
Tu mim respeita, meu irmão
De Bruna sou namorado.
José de Arimatéia
SEXTILHAS DE BRUNA
O tal Germano não se emenda
namorado dela diz que é
e, Bruna, envergonha e difama
Mal sabe esse pangaré
que é na minha sedosa cama
que Bruna se faz mulé
Germano de Cubatão,
deixe de pantim e esperneio,
de mimimi e conversê,
já perdeste este torneio
O pior cego é o que não vê
a verdade do triunfo alheio.
Germano
SEXTILHAS DE BRUNA
José, sujeito hediondo
Versado em crime e caluna
Vou lhe tirar desse mundo
Se falar merda de Bruna
Em boca de vagabundo
Mule minha não se apruma.
Sei de suas intenção
Bruna falou de você
Faço festa com home não
Deixe de teretetê
Menage faço, que é bão
Mas é eu, Bruna e Maitê.
Vaze pra lá seu cabrão.
José de Arimatéia
QUADRÃO - GESTAS DE BRUNA
Contra Germano Quaresma
Nesse quadrão, Germano infeliz
te desafio celerado que quis
sonhar um dia com a bela atriz
Saiba cachorro e rufião
caba da mulesta e falastrão
que sou eu quem faço festa e serão
e tu só tem o que merece
a gaiada feia e torta que aborrece
Nos oito pés a quadrão.
Germano
QUADRÃO - GESTAS DE BRUNA
(Chamando pro martelo alagoano)
Arimatéia, convertes as gestas
Pra confundir, que estratégia funesta
Mas tu comigo não te crias, besta.
Eu faço versos em qualquer padrão
A Bruna é minha e pra tu liga não
Falou que tu nem aguenta o rojão.
Nos dez pés de martelo alagoano
Te desafio pra próxima, mano
Que eu sambo nos oito pés a quadrão.
José de Arimatéia
MARTELO AGALOPADO
Contra Germano
Se é de martelo que vais, fulano
Não pense que haja maior engano
Não quero me encher de fumos
mas que escolha outros rumos
porque este desafio venço de pronto
ainda mais disputando com um tonto
que se crê versado e maioral
mas não passa de 'seito' boçal
criatura vil, reles e xarope
que não pode seguir esse galope.
Aproveite esse tempo pela frente,
E o domingo de finado
e vá para o túmulo por mim cavado.
Esqueça Bruna e seu colo quente.
vai andado, sai pra lá seu indigente,
que não merece um tostão de vida.
E não merece a minha querida
ouvir disparates dessa qualidade
esses com que tu na ingenuidade
pensas que me levas de vencida.
Germano
MARTELO ALAGOANO PRA BRUNA
Nos dez pés de martelo alagoano
Foi que aceitei um desafio insano
Pelejar feito Ulisses na Odisseia
E acabar com José De Arimatéia
Que enxovalha as honras da minha amada
Qual fosse ela qualquer mulher safada.
Tal marmota eu não vou deixar barato
Se encontrar atropelo, capo ou mato
Desafie em internet não, cabra, achegue
Tête à tête, acertar isso, fidijegue!
Vou lhe dar corretivo tão da porra
Que tu vai ficar todo atordoado
Vai me pedir perdão ajoelhado
Prometer voltar pras tuas cachorra
E deixar Bruna em paz. Ou então, morra.
Se tu me entendeu, vai te preparando
Bote o cu na mão, tua batata assando
Me deixe em paz, a mim e à minha Bruna
Vou fazer verso prela em banho de espuma
Nos dez pés de martelo alagoano.
José de Arimatéia
GALOPE À BEIRA MAR
Eu vou, seu Germano, caboclo do mato
dizer primeiro que respeito gosto
Não podes tu e eu pago e aposto
Pensar que sejas não mais que um rato
Cabeça de prego, titica de gato
velhaco, xibungo, cagão que verá
que seja aqui, no Sergipe ou Ceará,
pra vencer este velho Arimatéia
nem socorrendo-se da Odisséia
Cantando galope na beira do mar.
Germano
DUELO DE BRUNA - PEDIDO DE TRÉGUA
Arimatéia, amigo, mano velho
Brigar mode mulé num tá com nada
A Bruna é minha, mas nossa amizade
Permite que eu não seja tão pentelho
Quanto você nessa peleja insana
Mim dê sua mão, bora fazer as pazes
Mulé que não mim falta, peguei Ana
Paulinha Arozo, e Maitê, e outras. Fazes
Versinhos bestas, Bruna está anciana
Quero mais não, pega pra tu, tem gases,
Depois que fez sessenta afrouxou rosca.
Marquezina não larga de meu pé
Como tu pode ver, chove mulé
Na minha horta - e tu só pega as tosca.
Então quero lhe propor uma trégua
Se eu lhe matar vou ser preso e não quero
Bora parar com tanto lero-lero
O que eu tenho é pena de tu, fidégua.
Proponho então, que tu não mais apeles
Fico eu com Bruna, e tu, dês pra Riccelli.
José de Arimatéia
GALOPE À BEIRA MAR
Agora vem Germano esse caiçara
Ainda troçar e rir da minha cara
Sei não se não espera uma boa vara
Perdeu-se já no martelo agalopado
Alagoano martelo e sincopado
Agora como quem medra até do vento
Vem falar asneira esse jumento
E difamar e ofender este malungo
Que não se enrosca com xibungo
No galope à beira do mar

Dou-lhe trégua, sim, amigo Germano
E lhe deixo ir com fulano, beltrano e sicrano
Pois bem sei que entra ano e sai ano
O que resta mesmo nesse mundo vil
É a amizade que o homem construiu
Esta gesta e essa arenga vou deixando
e aqui, lá e acolá sigo cantando
Vá em paz com toda a sorte de quenga
Considero encerrada esta pendenga
Cantando galope na beira do mar.

domingo, 5 de novembro de 2017

PORTRAIT D'UNE FEMME SUR LA CITÉ

A verdade não existe,
no entanto,
tua mente e tu são verdadeiras
porque são belas.
Também o teu corpo
conduz a beleza
e é da vida condutor.
Porque tu existes
o mundo é mais claro
e a natureza mais certa
e em ordens.
Porque tu falas
as palavras são doces
e a cidade se arquiteta
e se ergue
não houvesse ciências
não houvesse minérios 
se ergueria.

Teu riso franco sobe para o céu crestado de estrelas,
teu riso franco outro astro
sobre a cidade
nova lua cheia, nova nave.

sábado, 4 de novembro de 2017

O MENINO DEUS NO TEMPLO

Não o que já foi aprendido, 
disso não mais se trata nem pode aborrecer
os doutores,
mas
o que se esqueceu e se vê
como jamais
tivesse sido visto - como
os pequenos e brancos siris que saltam 
na praia,
a lua vista da janela,
coloridas pedras caídas no chão -
peixes num riacho,
a flor no galho do arbusto,
vermelha, que pende sobre o muro
coberto pelo musgo;
saída da torre da igreja,
a andorinha azulando o céu,
a água, seu peso e movimento.

O antes do bem e do mal,
o sonho, a sílaba, o choro -
como os restos de lã caídos na estrada poeirenta,
a madeira aplainada com perícia,
o cheiro do azeite,
velhas sandálias sem seus pares,
pés descalços a pisar o pedregulho,
o vale por onde andou a minhã mãe,
a casa onde dorme, cansado, 
o meu pai.







quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A RESSURREIÇÃO DA FILHA DE JAIRO

Por que aceitar a morte e celebrá-la?
Visitar os cemitérios e ver, 
nas lápides e túmulos,
não mais do que límpidos espelhos,
neles refletido o rosto, em silêncio, 
inclinado?
Por que pagar as carpideiras e entalhar a pedra,
ornamentar a madeira, 
ungir com finos óleos a pele fria,
cobrir de flores a câmara incensada?
Por que, afinal, crer no destino?
Sucumbir, ininsurrectos, em paz?
Outros espelhos recebem a eterna face,
pois um outro rosto é quem lhes fita
e adverte:
plúrima e não única,
vária, e não ímpar, é a vida;
clara e escura, a campina e o paramo.
O desfiladeiro e o caudal, sol, salina, sereno.
Vigília e quietude, rio de sono,
pois dorme a criatura,
dorme apenas,
nos braços do tempo dorme,
sob o manto da noite dorme,
dorme até quando, docemente, ouve:
Levanta, menina, e anda.
Raising the Daughter of Jairus (web)




domingo, 22 de outubro de 2017

GILGAMESH

para Maria, in memoriam

Fomos talhados para a morte, 
para ela conformados, 
eis a verdade.
Você simplesmente partiu,
da mesma maneira como, 
antes, 
deixaram a vida 
minha mãe, meus irmãos,
outros camaradas.
Levantou-se um vento na colina,
reparei nos cataventos a girar suas cores,
a luz do sol cobrindo o campo verde.
Ouvi, ainda uma vez, a sua voz,
dizer algo sobre os antigos sumérios.
Entre dois grandes rios estou,
nenhum que me leve ao esquecimento.
Já, agora, quando a tarde declina,
e eu digo ocidente,
vejo o alvoroço febril das crianças.
Esquecidas da morte,
caminham apressadamente
e reencontram pais e irmãos,
os braços abertos, estendidos,
os olhos cheios de alegria.
Gilgamesh vs Enkidu








sábado, 9 de setembro de 2017

LAMENTAÇÕES

Aljôfar cristalina em meu rosto, orvalho,
balido do cordeiro ao pé do patíbulo, a
carne a consumir-se antes mesmo do fogo,
desmancha-se desesperada e morta,
enquanto chora a viúva seu pranto febril,
fogo, flama, ouro que se perdeu,
gema preciosa embotado já seu brilho,
honra de suas moças cujas cabeças
inclinam, agora, filhas de Judá,
Jerusalém silenciosa e desfalecida,
lástima e desordem, desprezo e servidão,
morte de uma estrela distante,
noite para sempre de estrelas isenta,
oração que não encontra ouvidos,
por sua própria e ignominiosa vontade,
queda e querer, ver e lembrar, 
Rosa de Sion despetalada,
sou eu quem chora e desatino,
treva a me cobrir os olhos,
unguentos que não me curam,
voragem do vento a varrer o palácio,
xingam-me os meus irmãos,
zombam de mim os meus inimigos.

sábado, 2 de setembro de 2017

AS BODAS DE CANÁ

para Adri Aleixo

O que tenho eu contigo, mulher? 
Trago os pés cansados e cobertos da areia vermelha. 
Há seis talhas de pedra nesta casa, ainda não é a minha hora. 
Para o júbilo, a água, desde as entranhas da terra, 
desde as alturas celestes, 
é mais do que o insípido líquido e sem cor. 
Quem cultiva a vinha antes do lavrador? 
Quem apascenta, antes do pastor, o rebanho? 
O que trazem os teus seios, teus olhos de água? 
O que tenho eu contigo, mulher? 
É chegada a hora da alegria.
Os meus pés se firmam sobre a relva, 
os meus cabelos se cobrem do orvalho. 
Brindem os noivos, os convivas, 
as taças do melhor vinho replenas.



terça-feira, 17 de janeiro de 2017

OMINIA SOL TEMPERAT

Tudo o sol doura, teus cabelos;
Ficamos em silêncio na tarde iluminada.
As aves do firmamento e os animais da terra
aquietaram;
apenas, nos caminhos do tempo,
o embate desses meus olhos contra os teus
e palavras nenhumas.
Não te quero dizer do amor
cuja chama queima minha alma eternamente;
e digo.
Nem clamar que aplaques uma sede infinita;
e clamo.
Há água suficiente feita desse instante claro,
quando por uma chispa de ternura
o teu braço roça o meu braço,
o teu cheiro percorre o ar do dia.
Ainda não houve nenhuma noite
e nenhum encontro.
Por isso,
a lágrima inaugura essa aurora.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A MORTE DE JOÃO BATISTA

(para o pastor José Nilton Lima)
 
Os olhos, sim, permanecem vivos, 
e se não mais fitam
e não mais enxergam, 
é porque não é esse o movimento, 
mas o contrário,
como o rio, que não corre para a nascente.
A antítese do rio é esse coágulo que escurece uma bandeja
de prata.
 
Onde está o corpo, agora, seixo, cipreste?
Que capricho é o corpo! 
Que capricho, vaidade, é a vida de um só!
E não o oceano cerúleo e não a semente (árvore contida) e frutos.
Ventos de areia a cobrir de areia a areia do deserto,
nessa silenciosa dança,
sob essa música silenciosa.

Vivos, ainda, não os olhos já mortos,
nem os cabelos, 
ramos do cipreste a pender sobre o rio,
mas a prata da água, as sandálias para longe atiradas,
a brasa, espada, uma palavra,
o anátema.
Salome whit the head of Baptist - Caravaggio