segunda-feira, 18 de junho de 2012

O POETA

(Para João Luis Malange) 

Embora sendo fevereiro 
fosse agosto ou dezembro, 
por processo normal do universo, 
houve de rebentar  
de alguma barriga, 
algo de humano e carne. 
E fizeram bolos e poemas 
e alguns segundos bastaram, 
vários olhos se entristeceram, 
vários palhaços fizeram palhaçadas 
vários operários 
fizeram coisas úteis 
aos braços e aos corpos. 
As cidades estavam povoadas 
e não caberia que se nascesse mais, 
mas 
era teimoso e disse 
"a ".

sábado, 2 de junho de 2012

APOCALIPSE

Depois da porta de vidro 
depois 
do brilho  desse sol 
quase me cegando 
depois do automóvel 
depois da rua 
há um letreiro.
Difícil 
ver daqui o anúncio. 

Leve música de talheres
embala 
esse meio-dia      
claro. 
                      
O rádio 
grita  de guerras possíveis -
ogivas 
atômicas -
vocabulário  apocalíptico.

Não sei que símbolos 
se propõem agora 
a ser o momento -
uma mulher olha o relógio 
é tarde 
é tarde nos seus olhos 
é tarde 
no meio dia claro 
é tarde nos edifícios 
onde o sol se recolheu, por fim.
É tarde no cinema 
na China 
é tarde na Inglaterra,  em Antuérpia 
é tarde 
e os diamantes brilham demais.