quinta-feira, 21 de março de 2013

VIADUTO DO CHÁ

Dizia minha pobre mãe que o tempo muda de direção.
A infância que perdi. 
A juventude que também perdi;
o velho cão asmático.
Havia um riacho cheio de peixes translúcidos;
e a grama coberta pela geada.
O automóvel azul.
Eu guardei segredos, 
guardei moedas que já não tem valor.
O medo, o espasmo. 
O primeiro amor que nunca veio.
Curau de milho.
Chumbo derretido sobre a placa de zinco.
As casas inacabadas; 

pequenos prêmios em palitos de sorvete.
Surpresas e goiabas.
As palmeiras imperiais que indiferentes me fitam
quando cruzo o Viaduto do Chá,
no tempo em que o tempo muda de direção.


terça-feira, 5 de março de 2013

O CISNE NEGRO, O ORNITORRINCO, O RELÓGIO PARADO

O que não se apresenta de maneira habitual;
o que é incomum; o que é raro.
Isso, é o insólito. 
Pois que gosto do que é insólito.
Da casa azul subitamente vista na colina verdejante.
O morcego que rasante passa pelo quarto em silêncio.
O cisne negro, o ornitorrinco, o relógio parado.
No campo de flores vermelhas a cobrir a planície,
o lagarto, a ave de rapina, a cascavel que espreita um rato.