segunda-feira, 9 de abril de 2012

PARA UMA MENINA MORTA

Dizem os filósofos que talvez fosse melhor 
não ter nascido 
e tudo ser a paz dos campos, dos vales, 
das aves, 
a paz das alturas celestes, do mar, 
do segredo. 

É, no entanto, um milagre palmilhar a senda 
da vida, 
e, no tempo, no instante, na centelha, 
percorrer a distância e seguir 
o distanciamento. 

O que dizer da morte 
quando apenas a figuramos e lhe emprestamos 
um caráter, 
o que dizer do que está para fora de nós 
e nos retira para fora de nós ? 

O que dizer da hora medonha ? 
A hora intrépida que se insinua na decrepitude, 
na enfermidade,  
que escurece o rosto da criatura, 
a perguntar na cruz,  
pai,  por que este abandono ? 

A hora, a única,  
o rebento,  
a infante 
que vem participar dos folguedos infantis.  

O que dizer da morte 
quando ninguém a pode dizer ? 

O nevoeiro, 
a cilada ? 

a insuspeitável, o que dizer senão que nos toma  
e nos cala de repente (Rilke) 

no silêncio dos campos, dos vales, na paz dos campos,  
dos vales, 
das aves, 
na paz das alturas celestes, na paz 
das hostes celestiais.  

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Na verdade, achei muito linda a postagem da Marina, e por causa dela, resolvi publicar esse poema. Obrigado pela visita.

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