segunda-feira, 2 de abril de 2012

MIRIAM

Miriam era um nome mágico e o som, tantas vezes pronunciado baixinho, como em segredo, era uma chave da minha imaginação infantil. 
Nesse tempo eu era como que o herói ladrão de alguma floresta inglesa, ou o bravo cavaleiro que pelos campos verdes desfila sua elegância corajosa. Miriam é o nome do que para mim foi o encontro com a misteriosa coisa a que chamamos de amor. 
O tempo costuma conduzir as coisas para o véu indistinto do que se perdeu, para a nebulosa região do esquecimento. O que eu fui quando criança e os tão longínquos sentimentos que habitavam o meu coração inábil são hoje a tentativa inútil, a frustrada tentativa de caminhar como quem sonha.
A bicicleta, o sol, o muro da casa, a rua. O vento, o vestido, a briga na calçada. O futebol, a caixa de sorvetes, a escola, a chuva. Miriam tinha cabelos negros e curtos; Miriam vivia em uma casa bem cuidada e sua mãe cozinhava muito bem. Amei Miriam em segredo. Apenas gritava-lhe o nome junto a um riacho, longe de ouvidos humanos, longe do que não fosse mágico, longe da possibilidade do desencanto. Gritava-lhe o nome e observava a resposta da água a passar sobre os cascalhos - a sua palavra fugidia.






2 comentários:

  1. Miriam é para mim o nome de minha avó...referência primeira desse nome em minha vida...

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    1. Miriam é o nome do meu primeiro amor. Eu era uma criança e uma criança espanta-se com os nomes. Tudo era muito fantástico. Na mesma época ouvi o nome Marian, em Robin Hood, e então me transformei num herói inglês. Beijo.

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