sábado, 25 de abril de 2015

UMA CARTA

Talvez
tenha falhado inclusive o amor, e,
na superfície das coisas
uma retícula,
que nós com nossos olhos anêmicos,
talvez,
não saibamos olhar.
marca indelével.
Esses, de agora,
são os tempos que não sonhamos,
as horas nuas,
as noites sem palavras ternas,
ou palavras nenhumas.
São os tempos:
a luz que não significa,
a casa com outros habitantes,
o cansaço que não encontra
leito.
São os tempos feitos
da nossa antiga dor de não saber.
São os tempos : ir vivendo.
Ir vivendo é bom (ajuda a viver).
No mais, nenhuma canção de amor
cantará
senão esse tempo
em que ficou inscrito
o teu nome,
o meu nome.
Essas,
de agora,
são as horas passando
como folhas levadas pelo vento.

Johannes Vermeer's Woman in Blue Reading a Letter


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