domingo, 19 de abril de 2015

TREM DAS ONZE

Minha mãe não dormia enquanto eu não chegava,

ainda quando meu pai bradava: 

"Deita Maria, José já é homem!"

A sempre presente e forte neblina que cobria a cidade. 

Eu, um vulto, na noite. 

Ô Lídia, eu agora sou apenas um menino

e não posso voltar para te acalmar o coração.

Já homem eu te perdi para sempre,

sem uma lágrima sequer,

apenas a chuva que era uma torrente;

que era o que eu não chorara

e cujas águas só me encheram os olhos

quando,

na tarde cheia de sol, 

ouvi dizer: ela vive.

Ô Lídia, eu nem me despedi de ti,

sei que você me esperava,

mas você não dormia,

não dormia enquanto eu não chegava.

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