sábado, 25 de abril de 2015

PAPEL ALMAÇO

(para Patricia Simone)
Num instante, e quase não se percebe
porque o tempo é, sobretudo,
as coisas deixarem de ser o que são,
num instante, 
tornam-se lúgubres 
as cores alegres.
Não sei pensar sobre isso.
Olhava para as roupas no varal, 
balançando com o vento,
(o fio do quarador a separar o momento)
um silêncio,
um ruído de máquina de costura, e,
no terreiro, as marcas dos pés
das galinhas num desenho espiral.
O chiado da panela de pressão.
A folha de papel almaço
sobre a velha mesa de fórmica.
Sou eterno porque sou mutável e o mesmo.
Berthe Morisot

Nenhum comentário:

Postar um comentário