segunda-feira, 5 de março de 2018

SIMÃO DE CIRENE

A colina está repleta já de cruzes
e muitos carregam pesadas traves
enquanto a multidão cobre de impropérios
e enxovalhos os condenados.
Há sempre uma sede de sangue,
uma infinita sede.
Nem o Nilo nem o Jordão nem o Tigre,
O Eufrates
nem mesmo o poço de Jacó 
jamais puderam saciar.
Ora, que atirem pedras, 
que se dilacere toda a carne,
que se corte a garganta de todos os cordeiros
e que se possa espargir toda lágrima
todo sangue
e marquem-se as vestes de branco linho.
(Quem se importa com o sofrimento?
O alheio sofrimento?)
Quem, afinal, quer beber água e viver
eterna e mansamente?
Que água tão viva de um rio tão perene?
Um sol vermelho tinge as casas abandonadas,
correm as crianças entre gritos e mulheres,
por acaso, apenas por acaso,
no meio da turba irascível
um homem se curva e socorre outro,
o alivia do excessivo peso,
e,
por isso mesmo,
compreende a carne 
e mancha de sangue,
para sempre, suas vestes.

 

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