sexta-feira, 30 de março de 2018

ECCE HOMO

São profundas feridas
o látego, a maça, a pedra,
o espinho,
mesmo a flor fere fundo,
o amor dos homens,
veneno, vela, vida.
Eis o céu sem fim,
a distante estrela inalcançável,
perdida no tempo.
Parte da parte da parte,
eis os pés dilacerados
partidos os braços
o fígado a alimentar as aves
carniceiras.
Eis o meu amor inútil,
as horas crestadas de morte
o vinagre
o peixe apodrecido.
Córregos a desaguar 
em lagos secos
água fria na pele sedenta
da terra.
Eis os vales inférteis, 
as mansões despedaçadas,
as estradas interrompidas.
Eis o suor, as glândulas
sudoríferas, 
os pruridos, a febre, 
a bacia de cobre,
o perfume
Lavemos as nossas mãos.
Quentin Massijs - Ecce Homo





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