segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A HORA

Dizem os filósofos que talvez fosse melhor 
não ter nascido 
e tudo ser a paz dos campos, dos vales, 
das aves, 
a paz das alturas celestes, do mar,
do segredo.
É, no entanto, um milagre palmilhar a senda
da vida,
e, no tempo, no instante, na centelha,
percorrer a distância e seguir
o distanciamento.
O que dizer da morte
quando apenas a figuramos e lhe emprestamos
um caráter,
o que dizer do que está para fora de nós
e nos retira para fora de nós ?
O que dizer da hora medonha ?
A hora intrépida que se insinua na decrepitude,
na enfermidade,
que escurece o rosto da criatura,
a perguntar na cruz,
pai, por que este abandono ?
A hora, a única,
o rebento,
a infante
que vem participar dos folguedos infantis.
O que dizer da morte
quando ninguém a pode dizer ?
O nevoeiro,
a cilada ?
a insuspeitável, o que dizer senão que nos toma
e nos cala de repente (Rilke)
no silêncio dos campos, dos vales, na paz dos campos,
dos vales,
das aves,
na paz das alturas celestes, na paz
das hostes celestiais.


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