segunda-feira, 23 de novembro de 2020

NAVIO NEGREIRO II

Não há neste mundo navios carregados de sal
nem nas docas e nos estuários da terra uma sequer gota de sangue.
Eis que os algodoeiros são prodigiosos cultivadores de si mesmos
e os laranjais se precipitam sobre as bocas
sedentas,
da mesma forma como a cana é o seu próprio
engenho
e toda essa gente saudável e bem vestida
pode sair a dançar em salões revestidos
de ouro,
pois o ouro instituiu-se autômato
e dispensa mineiros,
assim como dispensou os navios negreiros
e flutuava lentamente sobre as águas do Atlântico,
apenas para adornar as paredes de alguma
piedosa igreja,
a fim de que mais belamente
fosse pregada a igualdade entre os homens.
Navio Negreiro - Di Cavalcanti

 

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