sexta-feira, 10 de maio de 2019

FILTRO DOS SONHOS

Apotropaicos,
eles obstruem
as janelas e portas, os vãos, 
as calhas, dutos elétricos
e de água,  
a impedir que aqui me venham visitar
os incontáveis espíritos 
que habitam os sonhos noturnos
e os espíritos que habitam,
incontáveis
as visões da vigília.
São velas, são incensos, mandalas, 
amuletos,
patuás, 
são filtros de lã e pena, 
aros, 
são caixas
cores
perfumes
altares
catedrais erguidas nos montes,
(na aurora, a luz rubra do ruivo sol)
Nínive, Roma, Jerusalém
as palafitas e favelas
os elíseos e as câmaras do inferno,
os sacrifícios,
a carnificina santificada,
os olhos,
as patas
arrancadas dos animais.
Resta o veneno da gramática,
o não poder dizer e,
por isso,
erigir o falso, 
o apelo da solidão,
o medo do frio, 
as assombrosas bruxas imorredouras
e o veneno que vazou 
do cálice sagrado.


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