sábado, 31 de março de 2012

A TARDE NA ROÇA

porque a noite não existe - o que não há-
a ausência nos cobrindo - a falta -
consubstanciada - a falta -
em seus termos escuros - uma memória
a noite é sempre uma memória:
meu bisavô foi o maior artista
de quem já tive notícia.
Uma tarde no roçado
uma tarde que é essa mesma noite presente
uma tarde a beira do rio
com a artéria da perna vazando
por ofício da foice,
meu bisavô encontrou a morte.
não era a morte com seu traje
de negação
nem o silêncio, nem o medo -
o sangue fluía no rio
e era o mesmo rio indistintamente
que dava para o mar indistintamente
e para o céu.
Quem divisará?
tudo é memória -
e nesse momento em que está indistinto
o tempo e seu contrário
a noite é um bálsamo - profundo corte
a noite é um cálice - o vinho que falta
a noite é a dor extrema
a consolação do inconsolável.


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