sábado, 14 de abril de 2012
SOBRE FORMIGAS E DIAMANTES
Não cabe a mim, nem a ti, ou qualquer outro ou a nada
decidir ou não decidir sobre a vida. Que atitude tomar
senão viver e continuar vivendo os dias e as noites,
apodrecendo magnificamente e fertilizando outros campos?
Não é de se formular objeções e lançar insultos ferozes,
a vida não é uma instituição, não se revoga em congresso,
baixo às estrelas inumeráveis, nas moléculas de teu sangue
meu amor, nenhum átomo do que se pode chamar de incorreto,
nos pântanos pululantes de bichos e nas selvas calorosas,
nos planetas desconhecidos e no centro do teu olho verde,
uma coisa só incondicionada existia eternamente e antes,
está nas formigas e nos diamantes, no gelo e no teu filho,
está na escadaria da casa da tua mãe e na tela do cinema,
está no teu sexo quente, como nas flores e nos ratos,
nas galerias subterrâneas e nos peixes luminosos e cegos,
no teu silêncio depois do amor e no grito do teu parto.
Está tanto e em tudo de forma tão completa e diversa,
confundindo os padres e os profetas barulhentos
intrigando os filósofos e suicidas convictos
inaugurando constelações que nunca veremos.
Não cabe a mim, nem a ti, estarmos a julgar ou medir,
para além dos meus prováveis setenta ou oitenta anos,
para além do último filho de minha descendência,
há a vida que não é uma coisa ou outra coisa,
há a vida que não é inspiração de nenhum supremo deus
Não perguntes o que é que existe o que é que não existe,
conceber o que não existe é uma doença da nossa pequenez,
existe a vida interminável e vária, o céu azul, meu pé.
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