quinta-feira, 12 de abril de 2012

NOTURNO

A noite não passou ainda, a noite 
como um espelho, como um espelho velado. 

Tua imagem e teu corpo 
que é fresco como a terra, 
como a terra molhada. 

Quero morrer em teu corpo, 
que é fresco como a terra molhada. 
Eu ainda me lembro, 
eu ainda me lembro. 

Quero esquecer a vida, quero 
mil vezes esquecer a vida. 

Pousa como a noite a tua mão, 
a tua mão de seda, 
pousa a tua mão macia 
sobre as pálpebras minhas fechadas. 

A noite vai passando ainda. 
Cobre-me de beijos, 
cobre-me de beijos como uma mortalha. 

Como se eu fosse a terra 
pela chuva tocada; 

como se eu fosse a terra, 
a úmida terra beijada. 
Girl in white in the woods - 1882 - Vincent Van Gogh

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