O templo não é um lugar; não é um mercado
onde os mercadores expõem, encharcados de sangue,
os braceletes femininos ainda em punhos cortados;
brincos pendentes de pedaços de carne.
Vê como de branco se pintou a planície,
com as montanhas de ossos deixados à intempérie,
aos vermes, às aves carniceiras.
Toda essa vastidão contempla o martirizado,
enquanto recita um salmo, a perquirir Iavé,
por que?
O templo não é um corpo que padece,
nem o que foi mutilado pela espada,
cuja lâmina brilha como um sol de aço,
ou a serviço de uma companhia de extração de minério,
ou óleo;
as mulheres violadas e os homens arrastados,
no ofício do açúcar, no cultivo das doces frutas
que adornam os pratos de uma raça de corvos.
O templo não é o grito lancinante
dos submetidos a toda espécie de tortura e sevícia,
esmagamentos, esfolas, ratos, choques elétricos,
chapas quentes, e a eliminação de gerações
inteiras, economia da fome, para que uma dama
se cubra de perfume, e higienize o hálito,
para o beijo, e possa receber o dardo de seu senhor.
As ruas se cubram de macadâmia e ladrilhos enfeitem
as paredes de palácios e casas divididas por cômodos,
para o melhor deleite burguês, e para esconder das crianças
o sexo.
O templo.
Edward Munch - Golgota |
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