segunda-feira, 20 de abril de 2015

A NATUREZA DA CHUVA

para Claudia

Esperamos pelas águas sagradas e profusas; nelas o espírito de Deus 

pairava e não havia dia nem noite; esperamos pelas águas, 
pelo milagre do que é fluido, como fluida é a própria vida; 
esperamos pelas águas ternas e límpidas, 
pelo beijo da chuva, seu beijo prateado. Esperamos.

Esperamos pelas águas rasas e profundas; à beira mar, na beira rio, 

sob as pontes iluminadas a vapor e medo; esperamos pelas águas,
pelo tempo do que é belo e frágil; como bela e frágil é a própria vida; 
esperamos pelas águas frias e cáusticas, 
pelo canto da chuva, seu canto melismático. Esperamos.

Esperamos pelas águas calmas e profícuas; no ancoradouro, 

no Rio Amarelo, na aldeia, no Tigre e no Eufrates; 
esperamos pelas águas, pelo quase nada da vida, 
que é fluida como a própria chuva; esperamos pelas águas 
eternas e verdadeiras,
seu sussurro de águas, a revelar um segredo. Esperamos.

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