sexta-feira, 31 de maio de 2019

ESTILHAÇOS DO TEMPO

A mim restou o tempo estilhaçado,
os estilhaços do tempo, 
porque a tua voz se ausentou 
como a maré,
que, súbito, 
reflui.
Não, não há morte mais terrível
do que a do náufrago enlaçado 
ao soçobro.

Eu cruzava um Egeu azul e eterno, 
e a mim chamava-me Circe desolada,
chamavam-me
as criaturas
do vento
o alento de um canto feminino
e o vaticínio dos teus olhos.

Foi pouco (tíbia providência) amarrar-me
confiante
ao mastro da nave imperecível,
porque tu cantavas
e embora eu houvesse tapado, 
ainda, 
os ouvidos,
o teu canto tecia o dialeto
das cordas. 
Ulisses e as Serreias - James Draper
 

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