dos que vivem na terra, dos que ocupam os céus,
dos que povoam as águas,
um apenas e semelhante ao criador é o perverso,
imagem invertida de um espelho,
apenas este é capaz de tornar imperfeito
o que fez a perfeição
tornar muda a palavra que plantou o jardim
e teceu o vestido das águas
e coseu as inumeráveis estrelas no céu.
Por isso, que se varram das nações
toda a escória podre e perversa,
todos os que podem mirar o dentro
e perder de vista a imensidão dos mares,
os que se puseram a parir com dor,
arar a terra, trabalhar sob o sol sem proveito,
enganar o pai, matar o irmão,
ferir de morte a mãe inconsolável.
Que, de novo, as águas se confundam
e proliferem as espécies aquáticas,
os minerais se liquefaçam,
e não haja nenhuma estação
nem estuário nem porto nem novos frutos,
nem os murmúrios da mata e os cantos do abismo.
Contudo, tudo não pode ser o silêncio sempiterno
e a imobilidade perene e a tristeza
da solidão inominável do inominado.
Um, sua mulher, seu filhos,
miseravelmente é preciso preservar e
instruir. Fazei um grande barco, uma arca,
recolhei em pares os bichos, macho e fêmea,
os ferozes e os mansos, os que rastejam,
os peçonhentos, os grandes e os pequenos
e, por um tempo, vagai com eles sobre a imensa
massa líquida,
até que no céu se estampe um arco de cores,
e se faça uma aliança,
como um acordo,
se não tornará a escuridão sempiterna,
a mudez escura do indistinto,
que uma vez cometeu o pecado da vaidade.
Dilúvio de Improvisação - W. Kandinsky |
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