Nenhuma palavra foi dita,
e José se prostrou, o peito arfante,
e beijou-lhe os pés e tomou-lhe as mãos;
a luz na câmara,
réstia de sol, ainda permitiu
entrever seus olhos que se abaixavam,
tímidos, envergonhados,
claridade contra claridade,
a aurora desvelando
em suas costas os vales e os montes de um país
de delícias.
E disse, num murmúrio,
mulher,
amada,
comparada à égua atrelada ao carro de faraó.
E disse, num soluço, filha,
gazela cujas escapadas receio,
amor, amiga, irmã, Maria
teus beijos são melhores do que o vinho,
melhores do que o vinho
teus amores;
e não reparou a morena tez,
a pele pelo sol nazareno queimada,
e disse, num choro,
és bela,
como és bela minha amada
e terrível, disse,
terrível como um exército,
um exército com as bandeiras
desfraldadas.
E disse, a voz de um anjo,
um rio de sangue quente,
líquidos os meus ossos,
líquida a minha carne,
disse, este é o corpo da aliança,
a semente imorredoura,
a febre, a estrela que guia os que vagam no deserto,
este sou o sol,
a palavra, a verdade e a vida.