Açucena não morreu,
mas a memória dela em mim
tornou-se um lago calmo em noite escura;
Desde muito cedo amei Açucena
e quebrei os dentes e chorei e insisti todavia,
porém ela era longínqua e me não amou decerto.
Eu me lancei ao mar, eu fiz preces comovidas.
Consultei geometrias e matemáticas,
fiz poema de amor, fiz música celestial,
Mas Açucena era inexata e escalena.
Açucena era burra e trivial,
era triste e enigmática,
gerúndia e aborrecida.
Açucena era o tempo do tempo incerto,
face da morte no céu claro do meio-dia,
câncer de estrelas na noite serena,
espanto do que ia em mim,
retrato dessa vida anódina e pequena,
que tem por glória a sepultura.
Willen de Kooning |