Miriam era um nome
mágico e o som,
tantas vezes
pronunciado baixinho,
como em segredo,
era uma chave da
minha imaginação infantil.
Nesse tempo eu
era como que o herói ladrão de alguma floresta inglesa,
ou o bravo cavaleiro
que pelos campos verdes desfila sua elegância corajosa.
Miriam é o nome do
que para mim foi o encontro com a misteriosa coisa
a que chamamos de
amor.
O
tempo costuma conduzir as coisas para o véu indistinto
do que se perdeu,
para a nebulosa região do esquecimento.
O que eu fui quando
criança e os tão longínquos sentimentos
que habitavam o meu
coração inábil são hoje a tentativa inútil,
a frustrada
tentativa de caminhar como quem sonha.
A bicicleta, o sol,
o muro da casa, a rua. O vento,
o vestido, a briga
na calçada. O futebol, a caixa de sorvetes,
a escola, a chuva.
Miriam tinha cabelos negros e curtos;
Miriam vivia em uma
casa bem cuidada
e sua mãe cozinhava
muito bem.
Amei Miriam em
segredo. Apenas gritava-lhe o nome junto a um riacho,
longe de ouvidos
humanos, longe do que não fosse mágico,
longe da
possibilidade do desencanto. Gritava-lhe o nome
e observava a
resposta da água a passar sobre os cascalhos
- a sua palavra
fugidia.
Paisagem com dois meninos - João Batista da Costa |