domingo, 31 de agosto de 2014

EXUMAÇÕES

(para Inês Monguilhott)

Vou dizer que é quase, quase
impossível
qualquer transmutação,
não das almas
que não sei onde moram.
Para dizer a verdade,
nem mesmo creio nessa divisão esdrúxula,
o que tenho visto,
o que me foi dado conhecer
passa muito longe de qualquer
metafísica.
Pronto! Que história é essa?
Passando por aqueles bairros
periféricos,
por aquelas cidades dormitório,
o que vejo é uma mesma e cruel
lógica,
o reproduzir-se inerme dessa mesma
gente sem alma,
ou
que tanto faz se algum anjo
lhas soprou as narinas.
Não quero com isso afirmar
nem infirmar. Espera.
No cemitério de Santa Lídia,
nas casas iluminadas
pela chaminé perene
do complexo petroquímico,
sim,
existe inclusive o amor,
o café, o leite
e os meninos que apanharam
um lambari
enquanto eu ia cruzando
as estações na antiga Santos-Jundiaí.



sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O FANTASMA

Não é da morte que eu tenho medo,
essa sorrateira.
Nem do paulatino esquecimento
do que se foi fazendo tão cuidadosamente.
De certa forma, mesmo esta manhã
já semeou algum futuro incerto.
Não, nem da morte tenho medo,
mas desta fantasmagórica condição,
e deste horrível e vão sofrimento.

imagem colhida no Google